quinta-feira, novembro 19, 2009

Sobre o amor [mais sincero impossível]

O amor é uma espécie de preconceito. A gente ama o que precisa, ama o que faz sentir bem, ama o que é conveniente. Como pode dizer que ama uma pessoa quando há dez mil outras no mundo que você amaria mais se conhecesse? Mas a gente nunca conhece".

Charles Bukowski

sábado, novembro 07, 2009

História dos Sentimentos

Os Sentimentos Humanos certo dia se reuniram para brincar. Depois que o Tédio bocejou três vezes porque a Indecisão não chegava a conclusão nenhuma e a Desconfiança estava tomando conta, a Loucura propôs que brincassem de esconde-esconde. A curiosidade quis saber todos os detalhes do jogo, e a Intriga começou a cochichar com os outros que certamente alguém ali iria trapacear.

O Entusiasmo saltou de contentamento e convenceu a Dúvida e a Apatia, ainda sentadas num canto, a entrarem no jogo. A Verdade achou que isso de esconder não estava com nada, a Arrogância fez cara de desdém pois a idéia não tinha sido dela, e o Medo preferiu não se arriscar: "Ah, gente, vamos deixar tudo como esta", e como sempre perdeu a oportunidade de ser feliz.

A primeira a se esconder foi a Preguiça, deixando-se cair no chão atrás de uma pedra, ali mesmo onde estava. O Otimismo escondeu-se no arco-íris, e a Inveja se ocultou co a Hipocrisia, que sorrindo fingidamente atrás de uma árvore estava odiando tudo aquilo.

A Generosidade quase não conseguia se esconder porque era grande e ainda queria abrigar meio mundo, A Culpa ficou paralizada pois já estava mais que escondida em si mesma, a Sensualidade se estendeu ao sol nun lugar bonito e secreto para saborear o que a vida lhe oferecia, porque não era nem boba nem fingida; o Egoismo achou um lugar perfeito onde não cabia ninguém mais.

A Mentira disse a Inocência que ia se esconder no fundo do oceano, onde a inocente acabou afogadam a Paixão meteu-se na cratera de um vulcão ativo, e o Esquecimento já nem sabia o que estava fazendo ali.

Depois de contar até 99 a Loucura começou a procurar. Achou um, achou outro, mas ao remexer num arbusto espesso ouviu um gemido: era o Amor, com os olhos feridos pelos espinhos.

A Loucura o tomou pelo braço e seguiu com ele, espalhando beleza pelo mundo. Desde então o Amor é cego e a loucura o acompanha.

Conto retirado do livro Pensar é transgredir de Lya Luft

quinta-feira, novembro 05, 2009

A visita do pássaro

[O pássaro - Marcos Andruchak]

Renata lopes


Quando ela entrou no apartamento ouviu um barulho semelhante ao bater de asas. Ficou intrigada. Tinha deixado o lugar trancado e vazio. Entrou e fechou a porta atrás de si. Caminhou curiosa poucos passos até a cozinha de onde vinha o barulho. Não era longe. O lugar era pequeno: quarto, banheiro, sala e cozinha. Lá encontrou o inesperado.

Um passarinho cinza tentava insistentemente sair pela janela de vidro fechada. Tentou uma, duas vezes, até que na terceira bateu com força e caiu tonto no chão. Ela compadeceu-se. Perguntava com carinho como havia entrado ali.

O pássaro que havia se assustado quando ouviu a jovem entrar, tentou desesperadamente sair pelo local mais próximo. Via o céu, mas não conseguia ultrapassar a barreira transparente que emergia diante dele. Tentou o quanto pôde até cair.

Viu um dos gigantes que costumava ver em terra. Ouviu sair dela sons estranhos, semelhantes ao modo como aquela espécie falava com seus filhotes, pensou. Com medo da aproximação esperou o momento mais apropriado e voou para o lugar por onde a jovem havia entrado. Se encolheu como se assim não pudesse ser visto.

Ela abriu a janela. Precisava fazer o pássaro tentar sair novamente. Não precisou muito esforço. O bichinho decidido e jurando que dessa vez conseguiria ultrapassar o vidro, passou feito uma bala de revólver pela moça em direção à saída. Fechou os olhinhos pequenos e quando tornou a abrí-los viu que já estava livre. Respirou fundo. Pousou a certa distancia que considerou segura e olhou de volta para o local por onde havia se aventurado entrar.

Com tanto medo não se lembrou de voltar pelo para o buraco no quarto onde encontrou passagem. Era o buraco do ar-condicionado que a casa não tinha. O pássaro suspirou aliviado. A moça que havia acompanhado divertida o bichinho debruçou-se na janela para ver a direção em que ele voou. Ao pássaro o rosto dela pareceu se deformar numa expressão esquisita. A moça ria.

O pássaro não mais se aventurou naquelas gaiolas gigantes para não ser privado de sua liberdade. A jovem encantada com a inesperada visita pegou caneta e papel e escreveu um conto.