quinta-feira, novembro 05, 2009

A visita do pássaro

[O pássaro - Marcos Andruchak]

Renata lopes


Quando ela entrou no apartamento ouviu um barulho semelhante ao bater de asas. Ficou intrigada. Tinha deixado o lugar trancado e vazio. Entrou e fechou a porta atrás de si. Caminhou curiosa poucos passos até a cozinha de onde vinha o barulho. Não era longe. O lugar era pequeno: quarto, banheiro, sala e cozinha. Lá encontrou o inesperado.

Um passarinho cinza tentava insistentemente sair pela janela de vidro fechada. Tentou uma, duas vezes, até que na terceira bateu com força e caiu tonto no chão. Ela compadeceu-se. Perguntava com carinho como havia entrado ali.

O pássaro que havia se assustado quando ouviu a jovem entrar, tentou desesperadamente sair pelo local mais próximo. Via o céu, mas não conseguia ultrapassar a barreira transparente que emergia diante dele. Tentou o quanto pôde até cair.

Viu um dos gigantes que costumava ver em terra. Ouviu sair dela sons estranhos, semelhantes ao modo como aquela espécie falava com seus filhotes, pensou. Com medo da aproximação esperou o momento mais apropriado e voou para o lugar por onde a jovem havia entrado. Se encolheu como se assim não pudesse ser visto.

Ela abriu a janela. Precisava fazer o pássaro tentar sair novamente. Não precisou muito esforço. O bichinho decidido e jurando que dessa vez conseguiria ultrapassar o vidro, passou feito uma bala de revólver pela moça em direção à saída. Fechou os olhinhos pequenos e quando tornou a abrí-los viu que já estava livre. Respirou fundo. Pousou a certa distancia que considerou segura e olhou de volta para o local por onde havia se aventurado entrar.

Com tanto medo não se lembrou de voltar pelo para o buraco no quarto onde encontrou passagem. Era o buraco do ar-condicionado que a casa não tinha. O pássaro suspirou aliviado. A moça que havia acompanhado divertida o bichinho debruçou-se na janela para ver a direção em que ele voou. Ao pássaro o rosto dela pareceu se deformar numa expressão esquisita. A moça ria.

O pássaro não mais se aventurou naquelas gaiolas gigantes para não ser privado de sua liberdade. A jovem encantada com a inesperada visita pegou caneta e papel e escreveu um conto.