quarta-feira, novembro 29, 2006

Se você o vir, diga olá

Henri Cartier-Bresson [Truman Capote em 1947]


[Bob Dylan]



[Esta era a canção que eu ouvia há pouco mais de duas semanas atrás...]



Se você o vir, diga olá
Ele deve está em Tangier
Ele partiu na última primavera
Está vivendo lá, ouvi dizer
Diga por mim que eu estou bem
Apesar de que as coisas tenham ficado um tanto lentas
Ele pode achar que eu o esqueci
Não diga a ele que não foi

Nós rompemos, como amantes geralmente fazem
E pensar em como ele partiu naquela noite
Ainda me traz calafrios
E apesar da nossa separação
Que me cortou o coração
Ele ainda vive dentro de mim
Nós nunca estivemos separados

Se você se aproximar dele, beije-o uma vez por mim
Eu sempre o respeitei
Por ele ter feito o que fez e ser livre
Oh, o que quer que o faça feliz
Eu não impedirei
Apesar de que o gosto amargo continue aqui
Da noite que eu tentei fazê-lo ficar

Eu vejo muitas pessoas enquanto dou minhas voltas
E eu ouço seu nome aqui e lá
Enquanto vou de cidade em cidade
E eu nunca me acostumei com isso
Só aprendi a me desligar
Seja porque sou muito sensível ou porque estou ficando mais leve

Pôr-do-sol, lua amarela, eu volto ao passado
Eu sei cada cena decorada
Elas passaram tão rápido
Se ele estiver passado por aqui
Não sou tão difícil de se achar
Diga a ele que pode me procurar se tiver algum tempo

segunda-feira, novembro 27, 2006

Soul Parsifal

[ Sulamith Wulfing]


[Renato Russo]

Ninguém vai me dizer o que sentir
Meu coração está desperto
É sereno nosso amor e santo este lugar
Dos tempos de tristeza tive o tanto que era bom
Eu tive o teu veneno
E o sopro leve do luar
Porque foi calma a tempestade
E tua lembrança, a estrela a me guiar
Da alfazema fiz um bordado
Vem, meu amor, é hora de acordar
Tenho anis
Tenho hortelã
Tenho um cesto de flores
Eu tenho um jardim e uma canção
Vivo feliz, tenho amor
Eu tenho um desejo e um coração
Tenho coragem e sei quem eu sou
Eu tenho um segredo e uma oração
Vê que a minha força é quase santa
Como foi santo o meu penar
Pecado é provocar desejo
E depois renunciar

Estive cansado
Meu orgulho me deixou cansado
Meu egoísmo me deixou cansado
Minha vaidade me deixou cansado
Não falo pelos outros
Só falo por mim
Ninguém vai me dizer o que sentir

Tenho jasmim tenho hortelã
Eu tenho um anjo, eu tenho uma irmã
Com a saudade teci uma prece
E preparei erva-cidreira no café da manhã
Ninguém vai me dizer o que sentir
E eu vou cantar uma canção p'rá mim

sexta-feira, novembro 24, 2006

Êfemero

[Rubem Alves]


Efêmeras são as nuvens,
efêmeras são as florações dos ipês,
efêmero é o nosso próprio rosto.

segunda-feira, novembro 20, 2006

Amor Grand’ Hotel

[Kid Abelha]

Se a gente não tivesse feito tanta coisa, se não tivesse dito tanta coisa, se não tivesse inventado tanto, podia ter vivido um amor grand’hotel.
Se não dissesse tudo tão depressa, Se não fizesse tudo tão depressa, se não tivesse exagerado a dose, podia ter vivido um grande amor.Um dia o caminhão atropelou a paixão, sem teus carinhos e tua atenção, o nosso amor se transformou em bom-dia.Qual o segredo da felicidade?Será preciso ficar só pra se viver, Qual o sentido da realidade? Será preciso ficar só pra se viver.
Se não dissesse tudo tão depressa, Se não fizesse tudo tão depressa, se não tivesse exagerado a dose, podia ter vivido um grande amor.Um dia o caminhão atropelou a paixão, sem teus carinhos e tua atenção, o nosso amor se transformou em bom-dia.Qual o segredo da felicidade?Será preciso ficar só pra se viver, Qual o sentido da realidade? Será preciso ficar só pra se viver, só pra se viver...
Ficar só, só pra se viver, ficar só; só pra se viver, hum...

sexta-feira, novembro 17, 2006

Sentimento de tempo

[Giuseppe Ungaretti]

E pela luz precisa,
apenas uma sombra violeta
caindo
sobre o cume menos alto,
a distância aberta à medida,
cada pulsação minha
à maneira do coração,
mas agora o escuto,
te apressa, tempo, a pôr-me
sobre os lábios
os teus lábios últimos.

Carmina Burana

[ Camille Pissarro]

[Carl Off]

Ecce gratum (Coro)

Ecce gratum
et optatum
Ver reducit gaudia,
purpuratum floret pratum,
Sol serenat omnia.
Iamiam cedant tristia!
Estas redit, nunc recedit
Hyemis sevitia.
Iam liquescitet decrescit grando, nix et cetera;
bruma fugit,et iam sugit
Ver Estatis ubera;
illi mens est misera,
qui nec vivit,
nec lascivitsub Estatis dextera.
Gloriantur et letantur in melle dulcedinis,
qui conantur,
ut utanturpremio
Cupidinis:simus jussu
Cypridis gloriantes et letantes pares esse Paridis.

quinta-feira, novembro 16, 2006

Fernando Pessoa [Poesias Selecionadas]


[Camille Pissarro]

[Alberto Caeiro]

O amor é uma companhia

O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.

Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.

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[Ricardo Reis]

Segue o teu destino

Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.

A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.

Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.

Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te.
A resposta
Está além dos deuses.

Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.

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[Ricardo Reis]

Para ser grande, sê inteiro

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive

segunda-feira, novembro 13, 2006

Minha Felicidade

[Warwick Globe]


[Nietzsche]

Após o cansaço da busca,
aprendi o encontro.
Após afrontar vento frontal,
navego com todos os ventos.

sábado, novembro 11, 2006

Assim falou Zaratustra

[Nietzsche]

Você tem que estar preparado para se queimar em sua própria chama; como se renovar sem primeiro se tornar cinzas?

quinta-feira, novembro 09, 2006

Até O Fim

[Humberto Gessinger]

Não vim até aqui pra desistir agora
Entendo você se você quiser ir embora
Não vai ser a primeira vez
Nas últimas 24 horas

Mas eu não vim até aqui pra desistir agora
Minhas raízes estão no ar
Minha casa é qualquer lugar
Se depender de mim eu vou até o fim

Voando sem instrumentos
Ao sabor do vento
Se depender de mim eu vou até o fim

Não vim até aqui pra desistir agora
Entendo você se você quiser ir embora
Não vai ser a primeira vez
Nas últimas 24 horas

Mas eu não vim até aqui pra desistir agora
A ilha não se curva noite a dentro vida afora
toda a vida, o dia inteiro
Não seria exagero

Se depender de mim eu vou até o fim
Cada célula, todo fio de cabelo
Falando assim parece exagero
Mas se depender de mim
Eu vou até o fim
Não vim até aqui pra desistir agora
Não vim até aqui pra desistir

quarta-feira, novembro 08, 2006

Mulheres de Atenas

[Chico Buarque]

Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Vivem pros seus maridos
Orgulho e raça de Atenas
Quando amadas se perfumam
Se banham com leite, se arrumam
Suas melenas
Quando fustigadas não choram
Se ajoelham, pedem imploram
Mais duras penas, cadenas

Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Sofrem pros seus maridos
Poder e força de Atenas
Quando eles embarcam soldados
Elas tecem longos bordados
Mil quarentenas
E quando eles voltam, sedentos
Querem arrancar violentos
Carícias plenas, obcenas

Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Despem-se pros maridos
Bravos guerreiros de Atenas
Quando eles se entopem de vinho
Costumam buscar um carinho
De outras falenas
Mas no fim da noite, aos pedaços
Quase sempre voltam pros braços
De suas pequenas, Helenas

Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Geram pros seus maridos
Os novos filhos de Atenas
Elas não tem gosto ou vontade
Nem defeito, nem qualidade
Têm medo apenas
Não tem sonhos, só tem presságios
O seu homem, mares, naufrágios
Lindas sirenas, morenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Temem por seus maridos, heróis e amantes de Atenas
As jovens viúvas marcadas
E as gestantes abandonadasN
ão fazem cenas
Vestem-se de negro, se encolhem
Se conformam e se recolhem
Às suas novenas Serenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Secam por seus maridos, orgulho e raça de Atenas

Limites do Amor

[Vermeer]


[Affonso Romano de Sant'Anna]

Condenado estou a te amar
nos meus limites
até que exausta e mais querendo
um amor total, livre das cercas,
te despeça de mim, sofrida,
na direção de outro amor
que pensas ser total e total será
nos seus limites da vida.

O amor não se mede
pela liberdade de se expor nas praças
e bares, em empecilho.
É claro que isto é bom e, às vezes,
sublime.
Mas se ama também de outra forma, incerta,
e este o mistério:
- ilimitado o amor às vezes se limita,
proibido é que o amor às vezes se liberta.
Ele quis morrer para arrasar a morte e voltar.

Te desejo...


[Victor Hugo]

Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado[a].
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.
Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.
Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,V
ocê sirva de exemplo aos outros.
Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescerE
que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.
Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que você descubra ,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.
Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você sesentirá bem por nada.
Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.
Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga `Isso é meu`,
Só para que fique bem claro quem é o dono dequem.
Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar esofrer sem se culpar.
Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar.

Receita para fazer um Herói

[Rodin]

[Reinaldo Ferreira]


Tome-se um homem,
Feito de nada, como nós,
E em tamanho natural.
Embeba-se-lhe a carne,
Lentamente,
Duma certeza aguda, irracional,
Intensa como o ódio ou como a fome.
Depois, perto do fim,
Agite-se um pendão,
E toque-se um clarim.
Serve-se morto.

terça-feira, novembro 07, 2006

Eu te amo

[ Klimt]

[Chico Buarque/Tom Jobim]


Ah! se já perdemos a noção da hora
se juntos já jogamos tudo fora me conta agora como hei de partir !
se ao te conhecer, dei pra sonhar,
fiz tantos desvarios
rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde ainda posso ir

Se nós, nas travessuras das noites eternas
já confundimos tanto nossas pernas,
Diz com que pernas eu devo seguir
Se entornastes nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
meu sangue errou de veia e se perdeu

Como, se na desordem do armário embutido
teu paletó enlaça o meu vestido
e o teu sapato ainda pisa o meu
Como, se nos amamos feito dois pagãos
Meus seios ainda estão em tuas mãos
Me explica com que cara eu vou sair
Não, acho que estás te fazendo de tonta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir

Se as minhas mãos pudessem desfolhar

[Renoir]

[Garcia Lorca]

Eu pronuncio teu nome
nas noites escuras,
quando vêm os astros
beber na lua
e dormem nas ramagens
das frondes ocultas.
E eu me sinto oco
de paixão e de música.
Louco relógio que canta
mortas horas antigas.
Eu pronuncio teu nome,
nesta noite escura,
e teu nome me soa
mais distante que nunca.
Mais distante que todas as estrelas
e mais dolente que a mansa chuva.
Amar-te-ei como então
alguma vez? Que culpa
tem meu coração?
Se a névoa se esfuma,
que outra paixão me espera?
Será tranqüila e pura?
Se meus dedos pudessem
desfolhar a lua!!

segunda-feira, novembro 06, 2006

Adotarei o Amor

[Kahlil Gibran]


Adotarei o amor por companheiro
e o escutarei cantando, e o beberei como vinho,
e o usarei como vestimenta.

Na aurora, o amor me acordará
e me conduzirá aos prados distantes.
Ao meio dia, conduzir-me-á à sombra das árvores
onde me protegerei do sol como os pássaros.
Ao entardecer conduzir-me-á ao poente,onde ouvirei a melodia da natureza
despedindo-se da luz, e contemplarei as sombras da quietude adejando no espaço.
À noite, o amor abraçar-me-á,
e sonharei com os mundos superiores
onde moram as almas dos enamorados e dos poetas.

Na Primavera, andarei com o amor, lado a lado,
e cantaremos juntos entre as colinas;
e seguiremos as pegadas da vida,
que são as violetas e as margaridas;
e beberemos a água da chuva,acumulada nos poços,em taças feitas de narciso e lírios.

No Verão, deitar-me-ei ao lado do amor
sobre camas feitas com feixes de espigas,
tendo o firmamento por cobertor
e a lua e as estrelas por companheiras.

No Outono, irei com o amor aos vinhedos
e nos sentaremos no lagar,
e contemplaremos as árvores se despindo
das suas vestimentas douradas
e os bandos de aves migratórias
voando para as costas do mar.

No Inverno, sentar-me-ei com o amor
diante da lareira e conversaremos
sobre os acontecimentos dos séculos
e os anais das nações e povos.
O amor será meu tutor na juventude,
meu apoio na maturidade,
e meu consolo na velhice.

O amor permanecerá comigo até o fim da vida,até que a morte chegue (...).

sexta-feira, novembro 03, 2006

I Still Haven't Found What I'm Looking For

U2
I have climbed the highest mountains
I have run through the fields
Only to be with you

I have run I have crawled
I have scaled these city walls
Only to be with you

But I still haven't found
What I'm looking for
But I still haven't found
What I'm looking for

I have kissed honey lips
Felt the healing fingertips
It burned like fire
This burning desire
I have spoken with the tongue of angels
I have held the hand of the devil
It was warm in the night
I was cold as a stone



I believe in the Kingdom Come
Then all the colours will
Bleed into one
But yes I'm still running
You broke the bonds
You loosed the chains
Carried the cross and
All my shame
You know I believe it