sexta-feira, janeiro 26, 2007

Livros

[Caetano Veloso]


Tropeçavas nos astros desastrada
Quase não tínhamos livros em casa
E a cidade não tinha livraria
Mas os livros que em nossa vida entraram
São como a radiação de um corpo negro
Apontando pra a expansão do Universo
Porque a frase, o conceito, o enredo, o verso (E, sem dúvida, sobretudo o verso) É
o que pode lançar mundos no mundo.


Tropeçavas nos astros desastrada
Sem saber que a ventura e a desventura
Dessa estrada que vai do nada ao nada
São livros e o luar contra a cultura.


Os livros são objetos transcendentes
Mas podemos amá-los do amor táctil
Que votamos aos maços de cigarro
Domá-los, cultivá-los em aquários,
Em estantes, gaiolas, em fogueiras
Ou lançá-los pra fora das janelas (Talvez isso nos livre de lançarmo-nos)
Ou ­ o que é muito pior ­ por odiarmo-los
Podemos simplesmente escrever um:

Encher de vãs palavras muitas páginas
E de mais confusão as prateleiras.
Tropeçavas nos astros desastrada
Mas pra mim foste a estrela entre as estrelas.

quinta-feira, janeiro 25, 2007

Mal de Amar


[Maria Maroca]

Você me amarrou as asas,
coração
E, rindo, me diz:-voa agora!
Como se eu pudesse,
E você realmente quisesse
ouvir o som da partida...
Sem asas ou chão, piro agora
pairo, sem reparos,
sem força maior que a de
despertar piedade,
pato sem água,
águia cega,
sem vôo, nem pouso;
Piada triste, da qual só você ri.