sexta-feira, dezembro 22, 2006

A primeira coisa que vi foi a luz...

"A primeira coisa que vi foi a luz. Penetrou-me pelas pálpebras, abriu caminho pelo sono com carícias e deslizou até o sonho. Não era como a luz da manhã que eu costumava ver, não era branca e fresca, mas sim dourada. Com os olhos entreabertos em frente a uma janela com grandes cortinas de tule, entrevejo as poltronas estampadas, uma mesa bamba, um espelho e um armário. Há um esboço mal pintado na parede de um bazar no qual sombras de mulheres com grandes xales pretos deslizam pelas ruelas lúgubres.
— Estou em Bagdá!
A luz da manhã aqui é assim: furtiva.
Do outro lado das cortinas uma próxima revelação me espera: o Tigre. Tenho a impressão de já ter estado aqui antes. O tortuoso rio, os juncos ao longo das margens, as ilhotas de um verde ondulante no meio, as palmeiras que sobressaem orgulhosas e se refletem na superfície da água: tudo isso parece tirado de uma Bíblia que tive quando criança".


[Trecho do livro 101 Dias em Bagdá de Åsne Seierstad - essa mulher é tudo que há!]